domingo, 12 de outubro de 2008

O Espetáculo da Explosão de Bolhas de Sabão

No artigo 'Quem Leu o Capital?', postado em seu blog no último dia 08, o Jornalista Jorge Félix mostrou a seguinte passagem extraída do famoso e desconhecido (!) livro de Marx, mais precisamente um trecho presente no Livro 3, Capítulo 30 (Capital-Dinheiro e Capital-Efetivo), que elucida bem (já que a grande mídia não tem interesse em fazer isso) as causas gerais da crise financeira de nossos dias:

"Em um sistema de produção em que toda a trama do processo de reprodução repousa sobre o crédito, quando este cessa repentinamente e somente se admitem pagamentos em dinheiro, tem que produzir-se imediatamente uma crise, uma demanda forte e atropelada dos meios de pagamento.

Por isso, à primeira vista, a crise aparece como uma simples crise de crédito e de dinheiro líquido. E, em realidade, trata-se somente da conversão de letras de câmbio em dinheiro. Mas essas letras representam, em sua maioria, as compras e vendas reais, as quais, ao sentirem necessidade de expandir-se amplamente, acabam servindo de base a toda a crise.

Mas, ao lado disto, há uma massa enorme dessas letras que só representam negócios de especulação, que agora se desnudam e explodem como bolhas de sabão, ademais, especulações sobre capitais alheios, mas fracassadas; finalmente, capitais-mercadorias desvalorizados ou até encalhados, ou um refluxo de capital já realizável. E todo esse sistema artificial de extensão violenta do processo de reprodução não pode corrigir-se, naturalmente. (...)"

Minha análise pessoal da crise (se, como aluno de graduação do curso de Economia, tenho conhecimento suficiente pra fazer isso) seria a seguinte: estamos num período de extrema turbulência que nos coloca frente a riquíssimas possibilidades de avanço, mas de retrocesso também...

Quando a bolsa de Nova York teve sua quebra em 1929, o país e o mundo mergulharam num período de 10 anos de recessão que teve um "salvador": a 2ª Grande Guerra. Importante lembrar que haviam muito poucas direções conhecidas contrárias ao sistema capitalista que poderiam nortear novos rumos e que também ainda vivia-se um modo mais atrasado de Democracia e, principalmente, de Diplomacia, o que significa dizer que para se invadir um país em busca de riquezas ou promover destruição (um dos pilares em que se apoia o crescimento do Capital), o discurso para tal não precisava ser tão disfarçado como agora (acusações da existência de armas de destruição em massa, no caso da invasão e destruição do Iraque).

O pensamento do professor Immanuel Wallerstein não deve ser refutado, mas a possibilidade de outras guerras imbecis simplesmente a custo de promover novas formas de movimentação de capital e realavancar o sistema de crédito (-especulativo) ainda é bastante considerável. É um momento importante para descobrirmos o alcance da força das nova mentalidade que vem surgindo.


O Sith

Crisis II

Marx via nas crises financeiras os momentos dramáticos em que o proletariado reuniria forças para conquistar o poder e iniciar a construção do socialismo. Tal perspectiva parece distante, 125 anos após sua morte. A China, que se converteu na grande fábrica do mundo, é governada por um partido comunista. Mas, longe de ameaçarem o capitalismo, tanto os dirigentes quanto o proletariado chinês empenham-se em conquistar um lugar ao sol, na luta por poder e riqueza que a lógica do sistema estimula permanentemente.

Ao invés de disputar poder e riqueza com os capitalistas, não será possível desafiar sua lógica? O sociólogo Immanuel Wallerstein, uma espécie de profeta do declínio norte-americano, defendeu esta hipótese corajosamente no Fórum Social Mundial de 2003 - quando George Bush preparava-se para invadir o Iraque e muitos acreditavam na perenidade do poder imperial dos EUA. Em outro artigo, publicado recentemente no Le Monde Diplomatique Brasil, Wallerstein sugere que a crise tornará o futuro imediato turbulento e perigoso. Mas destaca que certas conquistas sociais das últimas décadas criaram uma perspectiva de democracia ampliada, algo que pode servir de inspiração para caminhar politicamente em meio às tempestades. Refere-se à noção segundo a qual os direitos sociais são um valor mais importante que os lucros e a acumulação privada de riquezas. Vê nos sistemas públicos (e, em muitos países, igualitários) de Saúde, Educação e Previdência algo que pode ser multiplicado, e que gera relações sociais anti-sistêmicas. Se a lógica da garantia universal a uma vida digna puder ser ampliada incessantemente; se todos tivermos direito, por exemplo, a viajar pelo mundo, a sermos produtores culturais independentes e a terapias (anti-)psicanalíticas, quem se preocupará em acumular dinheiro?

O neoliberalismo foi possível porque, no pós-II Guerra, certos pensadores atreveram-se a desafiar os paradigmas reinantes e a pensar uma contra-utopia. Num tempo em que o capitalismo, sob ameaça, estava disposto a fazer grandes concessões, intelectuais como o austríaco Friederich Hayek articularam, na chamada Sociedade Mont Pelerin, a reafirmação dos valores do sistema. Seus objetivos parecem hoje desprezíveis, mas sua coragem foi admirável. Eles demonstraram que há espaço, em todas as épocas, para enfrentar as certezas em vigor e pensar futuros alternativos. Não será o momento de construir um novo pós-capitalismo?



texto completo: http://diplo.uol.com.br/2008-10,a2623


rasnetoburn