(postei esse texto na comunidade tempos atrás... e acho bastante relevante a sua leitura... talvez até uma simples e estranha introdução ao existencialismo... simples. Para ver o post na comunidade clique aqui)
Uma Questão a Sartre
No final de "As Palavras", o sr. faz uma pergunta a si mesmo, que é: "O que resta?". E o sr. responde: "Um homem, feito de todos os homens, que os vale a todos e que vale qualquer um". Logo depois do aparecimento de "As Palavras", lhe outorgaram o Prêmio Nobel de Literatura. O sr. o recusou, e isso levou alguém que o sr. aprecia a afirmar sobre isso: "Definitivamente, Sartre é mais qualquer um do que qualquer um".
Jean-Paul Sartre: Bem, quando digo "um homem feito de todos os homens", vale para mim como para todos e significa, conseqüentemente, uma tal comunidade, em profundidade, entre as pessoas, que, verdadeiramente, o que as separa é o que as diferencia; dito de outro modo, acho que é melhor tentar realizar em si, de forma radical, a condição humana, na medida do possível, do que apegar-se a enormes diferenças específicas que chamamos, por exemplo, de talento [...].
Uma certa ligação extrema com a morte, o amor, a família, a necessidade, em um mesmo momento de perigo, faz com que, nesse momento, se atinja a verdadeira realidade humana - ou seja, o conjunto de ligações vividas em todos os termos - limite de nossa condição. É por isso que respeito as pessoas que vivem assim; por exemplo, os camponeses cubanos antes da revolução: na miséria, no sofrimento.
No entanto penso que nessas condições ser "qualquer um" não é simplesmente uma realidade - é também uma tarefa. Quer dizer, recusar todos os sinais distintivos para poder falar em nome de todos, e só se pode falar em nome de todos se se é "todos" - e não procurar, como muitos de meus pobres colegas, os super-homens; mas, ao contrário, ser o mais "homem" possível; quer dizer, o mais parecido com os outros; logo, trata-se de uma tarefa.
Dito de outra maneira, estou totalmente de acordo com um dos ideais de Marx, que afirma que, quando uma desordem na sociedade tiver suprimido a divisão de trabalho, não haverá mais escritores ligados às suas pequenas particularidades de escritores e, de resto, mineiros ou engenheiros, mas existirão homens que escreverão e que, aliás, farão outra coisa, e escreverão nesse momento porque a atividade de escrever é uma atividade absolutamente ligada à condição humana: é o uso da linguagem para fixar a vida. É, portanto, uma coisa essencial.
Mas ela não deve, precisamente por isso, ser entregue a especialistas - atualmente ela é entregue a especialistas em razão da divisão de trabalho -, mas, na realidade, seria necessário conceber homens que fossem polivalentes. Não sei se é realizável. É um outro problema.
Ras Neto Burn.